segunda-feira, 23 de março de 2009

Portinari na coleção Castro Maya

No dia 21 de Março, sábado, estreou no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, a exposição Portinari na Coleção Castro Maya, que pretende retratar a relação entre oum dos maiores pintores da arte brasileira no século XX, Cândido Portinari, e um dos maiores colecionadores de obras nacionais, Raymundo Ottoni de Castro Maya, que se iniciou quando Castro Maya convidou Portinari para ilustrar o primeiro livro dos Cem Bibliófilos do Brasil, ocasião em que presenteou o colega com um retrato pintado por ele mesmo.


A exposição conta com 3 núcleos: Colecionador, com obras como Menino com Pião, O Sonho, A Barca, O Sapateiro de Brodósqui, Grupo de Meninas Brincando, Lavadeiras e Morro n.11; Mecenas, onde encontram-se obras encomendadas por Castro Maya, como Menino a chupar cana, Trabalhadores do engenho, Retrato de Menino, Velha Totonha e Homem a cavalo; e Amigos, com registros, fotos, documentos que comprovam a relação de afinidade entre artista e colecionador. Além disso, obras que ilustraram textos literários completam as 58 obras da exposição.

Depois de muito cedo viajar à Paris para aprimorar seus conhecimentos sobre a arte, Portinari volta ao Brasil, e passa a registrar o espírito do povo brasileiro em suas obras, tendo se transformado num ícone do Movimento Modernista. Sua produção está estimado em torno de 5 mil obras.

A exposição vai até 19 de julho. Os ingressos custam R$ 4,00 e R$ 2,00 para estudantes. Menores de 12 e maiores de 60 anos, bem como turmas do ensino básico de escolas públicas não pagam, e a arquitetura do Museu também é um espetáculo.

sábado, 14 de março de 2009

E se você fosse um livro? - Farenheit 451

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!

Farenheit 451 é um filme produzido em 1966 pelo diretor francês François Truffaut e o enredo se passa num futuro hipotético, quando as pessoas nem podem imaginar que as casas eram suscetíveis a pegar fogo e os bombeiros serviam para apagá-lo.

Neste momento, viver-se-ia num regime totalitário em que só teria futuro quem obedecesse a todas as regras:

— O que faz nas horas de folga, Montag?
— Muita coisa... corto a grama...
— E se fosse proibido?
— Ficaria olhando crescer, senhor.
— Você tem futuro.

Nesse futuro criado pelo escritor Ray Bradbury, num romance homônimo, os livros seriam proibidos e as pessoas que liam-nos eram castigadas e por vezes mortas. Quem guardava livros em casa era denunciado e os mesmos eram queimados pelos bombeiros, dos quais a personagem Montag é um exemplo. O nome do filme, é uma referência à temperatura de decomposição dos livros.

Após conhecer Clarisse, no entanto, uma professora e leitora assídua, ele lê seu primeiro livro (David Coperfield, de Charles Dickens) e passa a levar para casa os livros que deveria queimar. A mudança de comportamento de Montag é explícita. No entanto, sua esposa conformista descobre os livros em casa e denuncia-o. Sua morte é forjada pelos bombeiros e ele vai ao encontro de Clarisse na Terra dos homens-livro, uma espécie de aldeia em que cada pessoa memoriza e destrói um livro para poder publicá-lo no futuro.
Muitos provavelmente não gostarão do filme, dado suas imagens e produção tosca (revolucionária para a época) mas a moral do filme vale muito a pena. Pergunto-me como só fui descobri-lo há tão pouco tempo.... E me pergunto: que livro eu seria?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Personagens X pessoas: ficção (Parte II)

Novamente sobre as personagens...

Após a leitura do livro “A personagem de ficção”, propus ao meu grupo a discussão do mesmo.

Quando discutíamos “A personagem cinematográfica”, do Paulo Emílio Sales Gomes, nos surpreendemos com a afirmação de que as personagens da literatura ficam para a eternidade, enquanto as personagens do cinema são efêmeras, nos deixando, geralmente, apenas a recordação da imagem do ator/atriz que a interpretou.. Eis algo em que nunca havíamos parado para pensar!

Quando me propus a fazer uma lista das personagens que foram mais marcantes para mim, isso não foi uma tarefa tão difícil, e seus nomes saltaram da boca aos magotes: D. Quixote, Ana Karênina, Madame Bovary, Ulisses... e essas personagens não são tão recentes, ou seja, estão tão cristalizadas que até pessoas que nunca leram os livros em que viviam conhecem seus nomes.

Se formos limitar essa lista às personagens cinematográficas, quem seriam os componentes? Paulo Emílio restringe: Carlito (Charles Chaplin) talvez tenha sido a única personagem criada pelo cinema que sobreviveu ao tempo e passou a fazer parte da enciclopédia de vida das pessoas , mesmo que elas não tenham assistido a seus filmes.

Ademais, lembramo-nos de Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor e diversos outros artistas. Quando uma personagem cinematográfica nos vem è mente, ela geralmente é fruto da literatura ou outras mídias como as HQs (Romeu e Julieta, Super Homem, Drácula...), ou seja, quando evocamos personagens do cinema, vêm a nós pessoas de verdade.

Transcrevo a conclusão do autor:

A vitalidade da personagem literária, novelística ou teatral, reside no seu registro em letras, na modernidade constante de execução garantida por essas partituras tipográficas. A personagem registrada na película nos impõe até os ínfimos pormenores o gosto geral do tempo em que foi filmada. Poderá um Leonardo do cinema fazer aceitar pela posteridade uma Mona Lisa cujo fascínio e mistério seria expresso através de movimento, som, sofrimento, alegria e do contexto completo do seu drama?

segunda-feira, 9 de março de 2009

A vida e a literatura: diálogos

"... em minha discreta opinião, senhor doutor, tudo quanto não for vida, é literatura, A história também, A história sobretudo, sem querer ofender, E a pintura, e a música, A música anda a resistir desde que nasceu, ora vai, ora vem, quer livrar-se da palavra, suponho que por inveja, mas regressa sempre à obediência, E a pintura, Ora, a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis, Esero que não esteja esquecido de que a humanidade começou a pintar muito antes de saber escrever, Conhece o rifão, se não tens cão caça com o gato, por outras palavras, quem não pode escrever pinta, ou desenha, é o que fazem as crianças, O que você quer dizer, por outras palavras, é que a literatura já existia antes de ter nascido, Sim senhor, como o homem, por outras palavras, antes de o ser já o era. Parece-me um ponto de vista bastante original..."

(SARAMAGO, José. História do cerco de Lisboa, p. 12)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Livros e Blogs

Os grandes escritores sempre foram, antes de mais nada, grandes leitores, infelizmente a recíproca nem sempre é verdadeira. De qualquer forma, é impossível exercer atividades ligadas à publicação de textos, seja na mídia impressa tradicional ou na blogosfera, sem investir algum tempo em leitura. Esta afirmação aí ao lado, "Read Books Not Blogs", é um tanto quanto provocativa, mas chama a atenção para o debate sobre a qualidade do material em circulação hoje na Internet.

Gostaria de aproveitar então e destacar alguns blogs que, apesar de utilizarem em sua maioria apenas as ferramentas e templates padronizados, tem atingido o potencial criativo desta ferramenta na Internet como forma de expressão e divulgação de idéias, conhecimento ou relacionamento social. Começo pelo blog sai de mim!!! da jovem Natasha Fernanda Tiné, onde descobri esta afirmação espirituosa, ela escreve com muita personalidade, é só ler a descrição do perfil dela e entenderão o que quero dizer.

Na área de literatura e artes, visito regularmente alguns blogs que merecem ser lidos com muito interesse, são eles (a ordem na lista é totalmente aleatória):
leituras, Livros & Literatura, poetriz, artefato.k, nós todos lemos, LivroLivre, @ Dis-cursos, linhadepesca, Le Jardin Éphémère, Cadernos da Bélgica, Além do muro da estrada, Ulisses Adirt, Literatura etc., La Strega, Marconi Leal, Diego Viana, LivroErrante, Ágora com dazibao no meio, Non Liquet, Cemitério das Palavras, Ilusão da Semelhança, Libru Lumen, Barros Bar, Ensaios de um ababelado, Blog da Dai, Caderno de Paris, Homo libris, Caleidoscópio, Lady Cronopio, Uns Dias, Livros e mais livros, PorEntreLetras, Curiosa Identidade, Blog do Enríquez, O pássaro impossível, Insanidades, Efigênia Coutinho e sua Poesia, Blog Panorama, Fetiche de Cinéfilo, noVÍ TÁ, Alice Salles, Orgia Literária, Lendo.

É bom deixar claro que não citei blogs que já alcançaram um nível profissional inegável como é o caso do
Livros e Afins, Polzonoff, O Biscoito Fino e a Massa, Renata Miloni, Pensar Enlouquece. Enfim, tanto material de qualidade a ser visto, lido e acompanhado que definitivamente devemos ler não somente livros, mas também blogs é claro.
  • Post publicado originalmente por Kovacs no blog Mundo de K. Agradeço a gentileza de meu colega Kovacs e adiciono à sua lista os blogs que acompanho.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A Invenção de Morel - Adolfo Bioy Casares

Discuti com o seu autor os pormenores do enredo, reli-o; não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole classificá-lo como perfeito. (Jorge Luis Borges)

Quando se lê uma afirmação dessas vinda de Borges, pode-se ter certeza de que se trata de coisa realmente muito boa. Trata-se de “A invenção de Morel”. A exemplo dos textos de Borges, o romancista argentino Adolfo Bioy Casares também produziu ótima literatura fantástica.

O enredo, aparentemente simples, conta a história de um fugitivo da justiça que se refugia numa ilha misteriosa do pacífico, onde há a suspeita de uma grave epidemia. A forma é de um diário editado, permeado pelas notas de um editor. O protagonista apaixona-se por uma moça, Faustine, que ele acredita ser parte de um grupo de veranistas. Mais tarde, descobre que ela e ninguém do grupo podem vê-lo.

A invenção de Morel”, assim como em alguns textos de Borges, confunde o leitor com relação ao caráter ficcional da obra. Tudo, absolutamente tudo deve ser levado em consideração neste texto e só assim é que conseguimos chegar ao ponto chave da narrativa. A sensação de estranhamento é presente na obra quase que constantemente.

Sem spoilers, um trecho de um dos livros mais interessantes e fantásticos (em ambos os sentidos) que já li:

“Contarei fielmente os factos que presenciei entre a tarde de ontem e a manhã de hoje, factos inverossímeis, que a realidade não terá podido produzir sem trabalho... Agora a verdadeira situação parece não ser a descrita nas páginas anteriores; a situação que vivo não é a que julgo viver.”

segunda-feira, 2 de março de 2009

HQ no cinema: Watchmen

Há cerca de 5 anos, entraram em moda as adaptações de quadrinhos para o cinema. Foram várias: Homem aranha 1, 2, e 3, Batman, X-man, V de Vingança, Constantine, 300. Nesta semana, mais uma dessas adaptações estréia nos cinemas: Watchman, um dos mais esperados do ano.

Esta é uma série de quadrinhos escrita por Alan Moore, ilustrada por Dave Gibbons e publicada pela DC Comics nos anos de 1986 e 1987. Seu caráter alternativo, juntamente com sua temática mais madura e menos superficial, o tornou um marco importante na história dos quadrinhos e passou a ser chamado de “Graphic novel” (romance visual).

A trama de Watchmen é situada nos EUA de 1985, um país no qual aventureiros fantasiados seriam realidade. O país estaria vivendo um momendo delicado no contexto da Guerra Fria e em vias de declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética. A mesma trama envolve os episódios vividos por um grupo de super-heróis do passado e do presente e os eventos que circundam o misterioso assassinato de um deles. Watchmen retrata os super-heróis como indivíduos verossímeis, que enfrentam problemas éticos e psicológicos, lutando contra neuroses e defeitos, e procurando evitar os arquétipos e super-poderes tipicamente encontrados nas figuras tradicionais do gênero. Isto, combinado com sua adaptação inovadora de técnicas cinematográficas, o uso frequente de simbolismo, diálogos em camadas e metaficção, influenciaram tanto o mundo do cinema quanto dos quadrinhos.

A adaptação, apesar de ser a mais esperada do ano, não alcançou unanimidade dentre os críticos em sua premiere mundial que aconteceu em Londres na semana passada. O filme, dirigido por Zack Snyder (300), conta com muita ação, sangue e sexo. A música e os efeitos especiais desempanham papel importantíssimo, da mesma forma que aconteceu em 300. Os críticos admitiram, porém, que o filme não decepcionará os fãs de Watchmen e poderá agradar também aos espectadores que não tiveram acesso aos quadrinhos, mas deixa a desejar depois de tanta expectativa, gastos e disputas entre os estúdios Fox e Warner.

Aguardemos! Estréia dia 6 nos cinemas.
Hoje o mesmo post em Transtornando o Incerto!