quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Realismo e Burguesia em Jane Austen: Persuasão

Escrito pela inglesa Jane Austen e publicado postumamente em 1818, Persuasão foi o último romance da escritora e, embora tenha sido escrito muito antes do advento da escola realista, pode-se captar em sua obra muitas das características do realismo.

Advinda da sociedade burguesa da época, é comum encontrarmos em seus romances um retrato e uma crítica à burguesia e seus valores, de onde surgem os temas principais de Persuasão. Na sociedade burguesa, era muito difícil que alguém mudasse de classe social, sendo que os menos privilegiados viviam à margem da sociedade, sem possibilidade de alcançar uma posição social mais elevada.

Uma das poucas soluções para se conseguir uma elevação de classes era através do matrimonio com alguém da alta sociedade. Embora as famílias abastadas não aceitassem que seus filhos se casassem com pessoas de classe inferior, muitos eram os golpes.

A persuasão também é uma temática bastante presente no livro – a ponto de o romance levar este título – e na burguesia retratada, pois muitas vezes as pessoas eram aconselhadas e até forçadas a deixarem seus valores e sentimentos de lado para representar um papel imposto pela sociedade. Anne é uma personagem que sofre com isso, acabando por trocar suas convicções pela sugestão de sua madrinha. Assim é que ela acaba desistindo do casamento com Wentworth.

– Deveria ter feito uma distinção – replicou Anne – Não deveria ter suspeitado de mim, agora; o caso é tão diferente, minha idade, outra. Se errei uma vez ao ceder à persuasão, lembre-se de que foi por esta ser exercida em favor da segurança, e não do risco. Quando me submeti, pensei que era este o meu dever; mas nenhum dever poderia ser chamado em auxílio no caso. Ao me casar com um homem indiferente a mim, incorreria em todos os riscos, e violaria todos os deveres. (AUSTEN, 2007, p. 289)

A partir dessa reflexão de Anne somos levados a avaliar a importância e a força da persuasão, se ela seria uma força negativa ou positiva agindo no romance e na vida das personagens. Esses temas, trabalhados como foram por Jane Austen em Persuasão, dão créditos de realidade ao texto, pois fazem parte dos valores das pessoas que viviam na época. São temas e tramas da vida real trazidas à literatura.


Outras coisas que não deixam a deseja no romance são as descrições. característica muto comum do realismo, as descrições de Jane Austen beiram a perfeição:

E como não houvesse nada para se admirar, o olhar do visitante se voltava para a invejável localização da cidade, a rua principal quase se precipitando na água, o passeio ao Cobb, suas antigas maravilhas e novos melhoramentos, com a linda linha de rochedos estendendo-se para leste da cidade. E seria um estranho visitante quem não visse encantos nas redondezas de Lyme, nem tivesse vontade de conhecê-la melhor! As paisagens nas suas redondezas, Charmouth, com suas terras altas e grandes extensões de campos, e ainda a suave baía retirada, emoldurada por escuros penhascos, onde fragmentos de rochas baixas, entre a areia, tornam-na o local mais propício para observar o fluxo da maré e sentar-se em incansável contemplação; as diferentes variedades de árvores da alegre vila de Up Lyme, e, principalmente, de Pinny, com suas verdes ravinas por entre tochas românticas, onde esparsas árvores de floresta e hortas luxuriantes indicam que muitas gerações se passaram desde a primeira queda parcial do rochedo preparasse o campo nesse aspecto, onde surge um cenário tão maravilhoso e adorável, que bem pode igualar qualquer paisagem da tão famosa ilha de Wight: esses lugares devem ser visitados e revisitados, para se compreender o valor de Lyme. (Idem, p. 125, 126)


Em 2007, criado para ser exibido na TV, sob a direção de Adrian Shergold, Persuasão recebeu uma adaptação cinematográfica que deixa muito pouco a desejar. A fotografia é, de fato, muito bonita e a fidelidade ao romance alcança um alto nível.

Para quem gostou de ler, ou assitir, "Razão e Sensibilidade", "Orgulho e Preconceito" e "Emma", "Persuasão" é uma boa pedida! Há também, uma belíssima biografia, para quem se interessa pela universo da autora, Becoming Jane, que deixa bem claro a sociedade em que ela viviam e as influencias que recebeu. Vai a dica!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Mil anos menos cinquenta, de Ângela Abreu (Dutra de Menezes)

A mesma verdade pode mudar de aparência, dependendo de como é contada: igual à idade de Noé – 950 anos, diz a Bíblia (Gênesis 8, 29); Mil anos menos cinqüenta, explica, com mais poesia, o Alcorão (29, 14). Dois livros, dois simbolismos, duas maneiras de pensar revelando a mesma história – a de séculos, um milênio, ou quase isto.  Exato o tempos gasto por ma família em sua caminhada entre Coimbra reconquistada (1064) e o Brasil de hoje – mil anos menos cinqüenta de omissão, coragem, medo, solidão, fé no possível e, claro, muitas paixões. (Contra capa)
 

Logo quando iniciei o mestrado, um de meus professores passou uma lista de livros que deveríamos ler na sua disciplina, que falaria sobre Ficção Histórica. 

Nunca havia ouvido falar de Ângela Abreu, ou Ângela Dutra de Menezes, mas me surpreendi com a sua qualidade artística, principalmente pelo fato de quase todos os alunos da minha turma também não a conhecerem. Foi com curiosidade que iniciamos a leitura do romance que tem duas epígrafes igualmente surpreendentes: 

E disse Jesus: não julgueis que eu tenha vindo trazer paz à Terra. Não vim trazer a paz, mas a espada. (Evangelho de Mateus, capítulo 10, versículo 34) 

Resignai-vos ou não vos resigneis, o resultado será o mesmo. (Alcorão, sura 52, versículo 16)
 

Ao lermos o texto da contra-capa do livro (paratexto), percebemos que se trata de uma versão da História de Portugal. A epígrafe apenas ajuda a reforçar a idéia de oposição entre as duas religiões que fundaram o país e sua cultura: o catolicismo e o islamismo. 

Fica evidente também, principalmente quando se inicia a leitura, de fato, que se trata de uma paródia dos estudos religiosos e da história: 

Livro da genealogia de todos nós, filhos de Deus ou do Diabo, conforme cada destino. 

Ab’ul e Urraca geraram Afonso. Afonso gerou Pedro Afonso. Pedro Afonso gerou Fernando. Fernando, de Arshan, gerou Nabila e o varão Paulo Pio. Nabila gerou João Afonso e Mona. Mona gerou Joana. Joana gerou Brites. Brites gerou Constança. Constança gerou Ana e então teve o exílio de Coimbra. (p. 14)
 

Igualmente, todos os demais 72 capítulos (curtos) trazem uma epígrafe religiosa, por vezes tirada da Bíblia, outras do Alcorão. 

Ao final do livro, encontramos a Genealogia de Ab’ul e Urraca, uma ferramenta muito utilizada nos livros de história e que é muito útil em “Mil anos menos cinqüenta”, devido o grande número de personagens e ao longo tempo em que passa o enredo. 

Quase todas as personagens fazem referência a personalidades da História de Portugal, mas constroem uma história paralela que frequentemente se entrelaça com a história oficial. 

Como se fosse fácil, Urraca, 38ª geração de Ab’ul e Urraca, decidiu fazer-se ao mar, atravessar o oceano, levar seu sangue ao Brasil, o sangue e os olhos mouros, também os cabelos vermelhor, até os antigos defeitos, velhos vícios de sua gente – tentando ou não tentando, o final seria o mesmo, ao menos se distraía. Foi decidir e ir embora, assim deixara Coimbra, sem nem mesmo olhar para trás, e assim partiu Urraca, em uma manhã de inverno, levando pequena bagagem, apenas algumas roupas, raras moedas, contadas, dois livros de Dom Quixote, herança de sua mãe com quem aprendera a ler, livros de matar saudade, um dia eles seriam a alegria de uma neta mas isto, como saber, saber naquele momento, só de esperança, afinal, era do clã, trazia sonhos nas mãos – seria uma nova luta, isto já se sabia, por ser herança divina a luta não acabava mas em um País distante, novos chãos, novos caminhos, quem sabe haveria um canto para, enfim, a família conseguir viver em paz. (p. 258)
 

O enredo, como ficamos sabendo ao final do livro, e contado do Rio de Janeiro. Além de uma genealogia portuguesa, como daí viemos, esse livro não deixa de constituir, também, a nossa genealogia. 

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Os trabalhadores do Mar: trabalho pela vida

Segundo Victor Hugo, o homem possui três necessidades por quais ele precisa lutar e, portanto, três lutas a serem cumpridas. Em cada uma de seus livros A Notre-Dame de Paris, Os Miseráveis e Os trabalhadores do mar, o autor pretende expor cada uma dessas lutas e necessidades.

"A religião, a sociedade, a natureza: são as três lutas do homem. Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades; precisa crer, daí o tempo; precisa criar, daí a cidade; precisa viver, daí a charrua e o navio. Mas há três guerras nestas três soluções. Sai de todas a misteriosa dificuldade da vida. O homem tem de lutar com o obstáculo sob a forma de superstição, sob a forma preconceito e sob a forma elemento.” (p. 17)

Certa vez fui presenteada com Os trabalhadores do mar, de onde retirei a citação. Já esperava que fosse um bom livro, pois se trata de um clássico, mas me surpreendi descobrindo nele um dos melhores de todos os que li. Havia momentos em que ria muito e outros em que chorei emocionada com a situação.

Logo no início da leitura, o que mais chamou a atenção foi a posição do narrador, que assume a voz do povo, do senso comum, conhecendo o protagonista Gilliatt ao mesmo tempo que os leitores, compartilhando das mesmas dúvidas das demais personagens que conviviam com ele.

“Não estava fixa a opinião a respeito de Gilliatt.
Geralmente era tido por marcou. Outros acreditavam mesmo que fosse filho do diabo.
Quando uma mulher tem, do mesmo homem, sete filhos machos consecutivos, o sétimo é marcou. Mas, para isso, é necesário que nenhuma filha venha interromper a série dos rapazes...” (p.36)

Esse tipo de comentário esta presente em todo o romance, até o momento em que Gilliatt se apaixona. Depois disso, passamos a acompanhar e até sentir o sofrimento de Gilliat e sua luta pela vida, pela continuidade até o último momento.

Para não tirar o desejo de leitura, transcrevo mais um parágrafo, dos últimos do livro:

“Aqueles olhos fixos não se pareciam com coisa alguma que se possa ver na terra. Havia o inexprimível naquela pálpebra trágica e calma. O olhar tinha toda a soma de tranquilidade que deixa o sonho abortado; era a aceitação lúgubre de outro complemento. Uma figa de estrela deve ser acompanhada por olhares semelhantes. De quando em quando a obscuridade celeste aparecia naquela pálpebra cujo raio visual estava fixo num ponto do espaço. Ao mesmo tempo em que a água infinita subia à roda do rochedo Gild-Hom-‘Ur, ia subindo a imensa tranquilidade nos olhos profundos de Gilliat”(p. 365)


Um pouco sobre o autor: Poeta, dramaturgo e romancista, Victor Hugo é um dos mais importantes escritores franceses do período romântico. Terceiro filho de um major que, mais tarde, se tornaria um general do exército napoleónico, Victor Hugo passou a sua infância entre Paris, Nápoles e Madrid, consoante as viagens do pai. Em 1921, ano do seu casamento com uma amiga de infância, Adèle Foucher, publicou o seu primeiro livro de poemas, Odes et poésies diverses, com o qual ganhou uma pensão, concedida por Louis XVIII. Um ano mais tarde publicaria o seu primeiro romance, Han s’Islande.Os seus livros mais conhecidos são Notre-Dame de Paris (1831), O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis (1862). No final da sua vida, Victor Hugo foi político, deixando notáveis ensaios nesta área. Morreu em Paris, em 1885.

Edição Utilizada: HUGO, Victor. Os trabalhadores do mar. Trad. Machado de Assis. . São Paulo: Nova Cultural, 2003.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

ProJovem Urbano: impressões

Peço desculpas a todos pela demora em postar novamente, mas estou mudado de emprego e isso exigiu de mim um esforço enorme. Passei em um teste seletivo para professora do programa ProJovem Urbano e, para assumir o cargo, os professores passaram por um intensivo curso de pedagogia.

Desculpem-me as boas pedagogas, mas as que eu conheço são todas iguais, não conseguem virar o disco e, por quase 15 horas diárias, eu e mais 36 vítimas deste teste, ficamos ouvindo sempre as mesmas coisas (as mesmas que já havíamos ouvido também durante os 4 ou 5 anos de graduação). Isso durou 9 dias e incluiu sábados!

O programa do governo federal é mesmo muito interessante: pessoas de 18 a 29 anos que não tiveram, por algum motivo, possibilidade de terminar o ensino fundamental na idade correta puderam se matricular e, juntamente com o ensino fundamental, tem aulas de qualificação profissional (Construção e Reparos, Serviços Domésticos e Vestuário, no caso da minha cidade), informática (muitos nunca tocaram num computador!), inglês, e Participação Cidadã, disciplina desenvolvida por uma assistente social, que pretende conscientizar os alunos das mudanças que eles podem gerar em suas comunidades se souberem até onde vão seus direitos e como fazê-los valerem. Além de tudo isso, (agora vai parecer um pouco paternalista e assistencialista), se o aluno tiver no mínimo 75% de frequência e 75% de aproveitamento das disciplinas, receberá uma bolsa auxílio mensal no valor de R$100,00. O material didático que todos os alunos recebem é de ótima qualidade.

Ainda assim, muitos alunos reclamam por não ter transporte gratuito, uniforme gratuito ... Talvez estejam acostumados a conseguir tudo facilmente, reflexo de coisas que facilmente se consegue: bolsa-família, vale-gás, luz fraterna...

Na segunda-feira, quando começaram as aulas, alguns alunos já vieram me perguntar sobre a tal da bolsa e, quando falei que a primeira geralmente demora a sair, todos ficaram irritadíssimos, como se alguém os tivesse enganando ou roubando os tão valiosos R$100,00 que receberão. Alguns estão pouco interessados nesta oportunidade de melhorar o nível de estudo, fazer um curso de qualificação e aprender a mudar o que está próximo deles.

Acredito que, mesmo assim, alguns deles farão a diferença. Alguns estão lá porque sabem que perderam muito tempo na vida e querem melhorar ao menos um pouco a qualidade de vida de suas famílias. Tenho certeza de que também aprenderei muito com eles, com a experiência de vida que meninas de 23 anos, casadas há 10, com 4 filhos têm.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Portinari na coleção Castro Maya

No dia 21 de Março, sábado, estreou no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, a exposição Portinari na Coleção Castro Maya, que pretende retratar a relação entre oum dos maiores pintores da arte brasileira no século XX, Cândido Portinari, e um dos maiores colecionadores de obras nacionais, Raymundo Ottoni de Castro Maya, que se iniciou quando Castro Maya convidou Portinari para ilustrar o primeiro livro dos Cem Bibliófilos do Brasil, ocasião em que presenteou o colega com um retrato pintado por ele mesmo.


A exposição conta com 3 núcleos: Colecionador, com obras como Menino com Pião, O Sonho, A Barca, O Sapateiro de Brodósqui, Grupo de Meninas Brincando, Lavadeiras e Morro n.11; Mecenas, onde encontram-se obras encomendadas por Castro Maya, como Menino a chupar cana, Trabalhadores do engenho, Retrato de Menino, Velha Totonha e Homem a cavalo; e Amigos, com registros, fotos, documentos que comprovam a relação de afinidade entre artista e colecionador. Além disso, obras que ilustraram textos literários completam as 58 obras da exposição.

Depois de muito cedo viajar à Paris para aprimorar seus conhecimentos sobre a arte, Portinari volta ao Brasil, e passa a registrar o espírito do povo brasileiro em suas obras, tendo se transformado num ícone do Movimento Modernista. Sua produção está estimado em torno de 5 mil obras.

A exposição vai até 19 de julho. Os ingressos custam R$ 4,00 e R$ 2,00 para estudantes. Menores de 12 e maiores de 60 anos, bem como turmas do ensino básico de escolas públicas não pagam, e a arquitetura do Museu também é um espetáculo.

sábado, 14 de março de 2009

E se você fosse um livro? - Farenheit 451

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!

Farenheit 451 é um filme produzido em 1966 pelo diretor francês François Truffaut e o enredo se passa num futuro hipotético, quando as pessoas nem podem imaginar que as casas eram suscetíveis a pegar fogo e os bombeiros serviam para apagá-lo.

Neste momento, viver-se-ia num regime totalitário em que só teria futuro quem obedecesse a todas as regras:

— O que faz nas horas de folga, Montag?
— Muita coisa... corto a grama...
— E se fosse proibido?
— Ficaria olhando crescer, senhor.
— Você tem futuro.

Nesse futuro criado pelo escritor Ray Bradbury, num romance homônimo, os livros seriam proibidos e as pessoas que liam-nos eram castigadas e por vezes mortas. Quem guardava livros em casa era denunciado e os mesmos eram queimados pelos bombeiros, dos quais a personagem Montag é um exemplo. O nome do filme, é uma referência à temperatura de decomposição dos livros.

Após conhecer Clarisse, no entanto, uma professora e leitora assídua, ele lê seu primeiro livro (David Coperfield, de Charles Dickens) e passa a levar para casa os livros que deveria queimar. A mudança de comportamento de Montag é explícita. No entanto, sua esposa conformista descobre os livros em casa e denuncia-o. Sua morte é forjada pelos bombeiros e ele vai ao encontro de Clarisse na Terra dos homens-livro, uma espécie de aldeia em que cada pessoa memoriza e destrói um livro para poder publicá-lo no futuro.
Muitos provavelmente não gostarão do filme, dado suas imagens e produção tosca (revolucionária para a época) mas a moral do filme vale muito a pena. Pergunto-me como só fui descobri-lo há tão pouco tempo.... E me pergunto: que livro eu seria?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Personagens X pessoas: ficção (Parte II)

Novamente sobre as personagens...

Após a leitura do livro “A personagem de ficção”, propus ao meu grupo a discussão do mesmo.

Quando discutíamos “A personagem cinematográfica”, do Paulo Emílio Sales Gomes, nos surpreendemos com a afirmação de que as personagens da literatura ficam para a eternidade, enquanto as personagens do cinema são efêmeras, nos deixando, geralmente, apenas a recordação da imagem do ator/atriz que a interpretou.. Eis algo em que nunca havíamos parado para pensar!

Quando me propus a fazer uma lista das personagens que foram mais marcantes para mim, isso não foi uma tarefa tão difícil, e seus nomes saltaram da boca aos magotes: D. Quixote, Ana Karênina, Madame Bovary, Ulisses... e essas personagens não são tão recentes, ou seja, estão tão cristalizadas que até pessoas que nunca leram os livros em que viviam conhecem seus nomes.

Se formos limitar essa lista às personagens cinematográficas, quem seriam os componentes? Paulo Emílio restringe: Carlito (Charles Chaplin) talvez tenha sido a única personagem criada pelo cinema que sobreviveu ao tempo e passou a fazer parte da enciclopédia de vida das pessoas , mesmo que elas não tenham assistido a seus filmes.

Ademais, lembramo-nos de Audrey Hepburn, Elizabeth Taylor e diversos outros artistas. Quando uma personagem cinematográfica nos vem è mente, ela geralmente é fruto da literatura ou outras mídias como as HQs (Romeu e Julieta, Super Homem, Drácula...), ou seja, quando evocamos personagens do cinema, vêm a nós pessoas de verdade.

Transcrevo a conclusão do autor:

A vitalidade da personagem literária, novelística ou teatral, reside no seu registro em letras, na modernidade constante de execução garantida por essas partituras tipográficas. A personagem registrada na película nos impõe até os ínfimos pormenores o gosto geral do tempo em que foi filmada. Poderá um Leonardo do cinema fazer aceitar pela posteridade uma Mona Lisa cujo fascínio e mistério seria expresso através de movimento, som, sofrimento, alegria e do contexto completo do seu drama?

segunda-feira, 9 de março de 2009

A vida e a literatura: diálogos

"... em minha discreta opinião, senhor doutor, tudo quanto não for vida, é literatura, A história também, A história sobretudo, sem querer ofender, E a pintura, e a música, A música anda a resistir desde que nasceu, ora vai, ora vem, quer livrar-se da palavra, suponho que por inveja, mas regressa sempre à obediência, E a pintura, Ora, a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis, Esero que não esteja esquecido de que a humanidade começou a pintar muito antes de saber escrever, Conhece o rifão, se não tens cão caça com o gato, por outras palavras, quem não pode escrever pinta, ou desenha, é o que fazem as crianças, O que você quer dizer, por outras palavras, é que a literatura já existia antes de ter nascido, Sim senhor, como o homem, por outras palavras, antes de o ser já o era. Parece-me um ponto de vista bastante original..."

(SARAMAGO, José. História do cerco de Lisboa, p. 12)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Livros e Blogs

Os grandes escritores sempre foram, antes de mais nada, grandes leitores, infelizmente a recíproca nem sempre é verdadeira. De qualquer forma, é impossível exercer atividades ligadas à publicação de textos, seja na mídia impressa tradicional ou na blogosfera, sem investir algum tempo em leitura. Esta afirmação aí ao lado, "Read Books Not Blogs", é um tanto quanto provocativa, mas chama a atenção para o debate sobre a qualidade do material em circulação hoje na Internet.

Gostaria de aproveitar então e destacar alguns blogs que, apesar de utilizarem em sua maioria apenas as ferramentas e templates padronizados, tem atingido o potencial criativo desta ferramenta na Internet como forma de expressão e divulgação de idéias, conhecimento ou relacionamento social. Começo pelo blog sai de mim!!! da jovem Natasha Fernanda Tiné, onde descobri esta afirmação espirituosa, ela escreve com muita personalidade, é só ler a descrição do perfil dela e entenderão o que quero dizer.

Na área de literatura e artes, visito regularmente alguns blogs que merecem ser lidos com muito interesse, são eles (a ordem na lista é totalmente aleatória):
leituras, Livros & Literatura, poetriz, artefato.k, nós todos lemos, LivroLivre, @ Dis-cursos, linhadepesca, Le Jardin Éphémère, Cadernos da Bélgica, Além do muro da estrada, Ulisses Adirt, Literatura etc., La Strega, Marconi Leal, Diego Viana, LivroErrante, Ágora com dazibao no meio, Non Liquet, Cemitério das Palavras, Ilusão da Semelhança, Libru Lumen, Barros Bar, Ensaios de um ababelado, Blog da Dai, Caderno de Paris, Homo libris, Caleidoscópio, Lady Cronopio, Uns Dias, Livros e mais livros, PorEntreLetras, Curiosa Identidade, Blog do Enríquez, O pássaro impossível, Insanidades, Efigênia Coutinho e sua Poesia, Blog Panorama, Fetiche de Cinéfilo, noVÍ TÁ, Alice Salles, Orgia Literária, Lendo.

É bom deixar claro que não citei blogs que já alcançaram um nível profissional inegável como é o caso do
Livros e Afins, Polzonoff, O Biscoito Fino e a Massa, Renata Miloni, Pensar Enlouquece. Enfim, tanto material de qualidade a ser visto, lido e acompanhado que definitivamente devemos ler não somente livros, mas também blogs é claro.
  • Post publicado originalmente por Kovacs no blog Mundo de K. Agradeço a gentileza de meu colega Kovacs e adiciono à sua lista os blogs que acompanho.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A Invenção de Morel - Adolfo Bioy Casares

Discuti com o seu autor os pormenores do enredo, reli-o; não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole classificá-lo como perfeito. (Jorge Luis Borges)

Quando se lê uma afirmação dessas vinda de Borges, pode-se ter certeza de que se trata de coisa realmente muito boa. Trata-se de “A invenção de Morel”. A exemplo dos textos de Borges, o romancista argentino Adolfo Bioy Casares também produziu ótima literatura fantástica.

O enredo, aparentemente simples, conta a história de um fugitivo da justiça que se refugia numa ilha misteriosa do pacífico, onde há a suspeita de uma grave epidemia. A forma é de um diário editado, permeado pelas notas de um editor. O protagonista apaixona-se por uma moça, Faustine, que ele acredita ser parte de um grupo de veranistas. Mais tarde, descobre que ela e ninguém do grupo podem vê-lo.

A invenção de Morel”, assim como em alguns textos de Borges, confunde o leitor com relação ao caráter ficcional da obra. Tudo, absolutamente tudo deve ser levado em consideração neste texto e só assim é que conseguimos chegar ao ponto chave da narrativa. A sensação de estranhamento é presente na obra quase que constantemente.

Sem spoilers, um trecho de um dos livros mais interessantes e fantásticos (em ambos os sentidos) que já li:

“Contarei fielmente os factos que presenciei entre a tarde de ontem e a manhã de hoje, factos inverossímeis, que a realidade não terá podido produzir sem trabalho... Agora a verdadeira situação parece não ser a descrita nas páginas anteriores; a situação que vivo não é a que julgo viver.”

segunda-feira, 2 de março de 2009

HQ no cinema: Watchmen

Há cerca de 5 anos, entraram em moda as adaptações de quadrinhos para o cinema. Foram várias: Homem aranha 1, 2, e 3, Batman, X-man, V de Vingança, Constantine, 300. Nesta semana, mais uma dessas adaptações estréia nos cinemas: Watchman, um dos mais esperados do ano.

Esta é uma série de quadrinhos escrita por Alan Moore, ilustrada por Dave Gibbons e publicada pela DC Comics nos anos de 1986 e 1987. Seu caráter alternativo, juntamente com sua temática mais madura e menos superficial, o tornou um marco importante na história dos quadrinhos e passou a ser chamado de “Graphic novel” (romance visual).

A trama de Watchmen é situada nos EUA de 1985, um país no qual aventureiros fantasiados seriam realidade. O país estaria vivendo um momendo delicado no contexto da Guerra Fria e em vias de declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética. A mesma trama envolve os episódios vividos por um grupo de super-heróis do passado e do presente e os eventos que circundam o misterioso assassinato de um deles. Watchmen retrata os super-heróis como indivíduos verossímeis, que enfrentam problemas éticos e psicológicos, lutando contra neuroses e defeitos, e procurando evitar os arquétipos e super-poderes tipicamente encontrados nas figuras tradicionais do gênero. Isto, combinado com sua adaptação inovadora de técnicas cinematográficas, o uso frequente de simbolismo, diálogos em camadas e metaficção, influenciaram tanto o mundo do cinema quanto dos quadrinhos.

A adaptação, apesar de ser a mais esperada do ano, não alcançou unanimidade dentre os críticos em sua premiere mundial que aconteceu em Londres na semana passada. O filme, dirigido por Zack Snyder (300), conta com muita ação, sangue e sexo. A música e os efeitos especiais desempanham papel importantíssimo, da mesma forma que aconteceu em 300. Os críticos admitiram, porém, que o filme não decepcionará os fãs de Watchmen e poderá agradar também aos espectadores que não tiveram acesso aos quadrinhos, mas deixa a desejar depois de tanta expectativa, gastos e disputas entre os estúdios Fox e Warner.

Aguardemos! Estréia dia 6 nos cinemas.
Hoje o mesmo post em Transtornando o Incerto!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Melinda e Melinda: a tragédia e a comédia

O filme Melinda e Melinda (2004), do diretor Woody Allen, é muito mais do que uma produção cinematográfica. Possui as características mais marcantes do diretor: poucos cortes, cenas vazias, vozes em off, comicidade.

Mas, mais do que um filme, em Melinda e Melinda, Woody Alllen faz uma reflexão sobre a tragédia e a comédia, desenvolvendo duas histórias paralelas para uma mesma personagem.
Tudo se inicia com uma discussão entre diretores cinematográficos sobre a essência da vida: seria ela cômica ou trágica? O desenrolar dos fatos nos mostra como podemos ter visões e reações diferentes para um mesmo fato.

As duas histórias têm basicamente os mesmos elementos e o mesmo enredo: Melinda, separada do marido, muda-se para outro local, encontra um grupo de pessoas jantando... e por aí vai... A construção das duas partes do filme ficam muito bem definidas, mesmo as personagens. Cenas mais escuras, música triste, chuva e um cabelo desgrenhado para a Melinda trágica. Sol, roupas coloridas, música alegre e um visual bem leve para a Melinda cômica.
Como sempre, a impressão de que estamos assistindo a uma cena real, a impressão de realidade, é cortada por Woody Allen, a partir do momento em que sabemos que as histórias estão sendo apenas imaginadas pelos diretores para ilustrar uma discussão, até o momento em que o filme acaba com um estalar de dedos do diretor-personagem. Mesmo assim, não se consegue desgrudar da tela por um minuto e por momentos se esquece que a história que estamos vendo não é da Melinda, mas dos diretores.

Bem, essa é minha dica de filme para o final de semana! Aguardo os comentários.
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Personagens X pessoas: ficção

Antônio Cândido, quando escreveu “A personagem do romance”, tentou inicialmente diferenciar personagem (ser fictício) de pessoa (ser real), e o que parecia simples tornou-se uma discussão de várias páginas. Pode um personagem SER?

E mais uma vez voltamos para “A poética” de Aristóteles. Como toda ficção é baseada na realidade e deve ser verossimilhante, toda personagem deve igualmente ser verossimilhante, ou seja, deve convencer enquanto pessoa.

Daí, surgiram várias definições de personagens: tipos, planas, redondas ou esféricas, transpostas, inventadas etc. Podemos dizer que, de certa forma, toda personagem é transposta, pois possui características básicas capazes de definir uma pessoa. Por mais estranha e inventada que seja uma personagem, ela possui características que são comuns a todo ser humano.

A principal diferença entre personagens e pessoas, exposta por Antônio Cândido, é que as pessoas são ilimitadas (podemos apreender todo o seu físico, mas não sua personalidade, por que está em constante desenvolvimento e transformação e por que alguns traços psicológicos são imperceptíveis até mesmo para si mesmas) e as personagens são limitadas, têm personalidades bem definidas, inseridas no todo do romance.

Além disso, há o fato de que na vida, estamos tão acostumados a visualizar fragmentos que por vezes os tomamos como todo, ou seja, transformamos as pessoas que conhecemos em personagens. Na ficção, os fragmentos são o que basta para termos uma visão do todo, pois as personagens não têm passado nem futuro além do livro.

Até o romantismo, as personagens eram idealizadas, perfeitas e fechadas em si mesmas. Com o advento do realismo (e do naturalismo, racionalismo, positivismo, determinismo, psicologia e psicanálise ...) as personagens se tornaram mais reais, mais profundas, mais humanas.

Surgiram personagens como Madame Bovary, Anna Karenina e Capitu, Heathcliff, Gatsby e Bartleby, GH e Ulysses, dentre outros. E quem, dentre nós, diria que não são pessoas? Quem, dentre nós, se acha mais humano que qualquer uma dessas personagens?

A vantagem do ser fictício sobre o ser humano está na intensidade com que ele vive cada momento e cada paixão, e a vantagem do ser humano sobre o ser fictício está na “aventura sem fim que é, na vida, o conhecimento do outro” (CÂNDIDO).

Top 10 (minhas) personagens inesquecíveis

1. Heathcliff (O morro dos ventos uivantes)
2. Blimunda (Memorial do Convento)
3. Macabéia (A hora da estrela)
4. Brás Cubas (Memórias Póstumas de Brás Cubas)
5. Bartleby (Bartleby: o escriturário)
6. Gilliatt (Os trabalhadores do mar)
7. Gatsby (O grande Gatsby)
8. Anna Karênina (Anna Karênina)
9. Lady Macbeth (Macbeth)
10. Riobaldo (Grande Sertão: Veredas)

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A personagem de ficção”!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Vencedores Oscar 2009

A noite do Oscar 2009, trouxe várias surpresas e confirmou algumas expectativas. Como era de se esperar, o prêmio de melhor atriz foi para Kate Winslet, por O Leitor; o prêmio de melhor ator coadjuvante para o coringa Heath Ledger, o prêmio de melhor animação para Wall-E.

A surpresa ficou por conta de Quem quer ser um milionário?, que roubou (no bom sentido) 8 prêmios do favorito O curioso caso de Benjamin Button, que só recebeu 3 das 13 estatuetas para as quais foi indicado.

Segue a lista dos vencedores:

Melhor Filme

Quem Quer Ser um Milionário?

Melhor Ator

Sean Penn, por Milk - A Voz da Igualdade

Melhor Atriz


Kate Winslet, por O Leitor

Melhor Ator Coadjuvante


Heath Ledger, por Batman - O Cavaleiro das Trevas

Melhor Atriz Coadjuvante


Penélope Cruz, por Vicky Cristina Barcelona

Melhor Diretor


Danny Boyle, por Quem Quer Ser Um Milionário?

Melhor Filme Estrangeiro


Departures

Melhor Filme de Animação


Wall-E

Melhor Roteiro Adaptado

Quem Quer Ser Um Milionário?

Melhor Roteiro Original


Milk - A Voz da Igualdade

Melhor fotografia


Quem Quer Ser um Milionário?

Melhor direção de arte


O Curioso Caso de Benjamin Button

Melhor figurino


A Duquesa

Melhor documentário em longa-metragem


Man on Wire

Melhor documentário em curta-metragem


Smile Pinki

Melhor montagem


Quem Quer Ser Um Milionário?

Melhor maquiagem


O Curioso Caso de Benjamin Button

Melhor trilha sonora original


Quem Quer Ser Um Milionário?

Melhor Canção


Jai Ho (Quem Quer Ser Um Milionário?)

Melhor Curta-Metragem de Animação

La Maison de Petits Cubes

Melhor Curta-Metragem

Spielzeugland (Toyland)

Melhor Edição de Som


Batman - O Cavaleiro das Trevas, Richard King

Melhor Mixagem de Som


Quem Quer Ser Um Milionário?

Melhores Efeitos Visuais

O Curioso Caso de Benjamim Button


Lista de vencedores do Framboesa de Ouro 2009
Lista de Indicados ao Oscar 2009
Lista completa de indicados ao Framboesa de Ouro 2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Vencedores Framboesa de Ouro 2009

Como manda a tradição, um dia antes da festa do Oscar são divulgados os vencedores (?) do Framboesa de Ouro. Conforme o combinado, aí vai a lista dos premiados:

Pior filme

Guru do Amor


Pior ator


Mike Myers (Guru do Amor)


Pior atriz


Paris Hilton (A Gostosa e a Gosmenta)


Pior ator coadjuvante


Pierce Brosnan (Mamma Mia! )


Pior atriz coadjuvante


Paris Hilton (Repo: The Genetic Opera)


Pior casal


Paris Hilton e Christin Lakin ou Joel David Moore (A Gostosa e a Gosmenta)


Pior sequencia, "prequel" ou remake


Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal


Pior diretor


Uwe Boll (Tunnel Rats, Em Nome do Rei e Postal)


Pior Roteiro


Guru do Amor


Pior carreira


Uwe Boll


Veja a Lista de Indicados ao Oscar 2009!


Veja a lista completa de indicados ao Framboesa de Ouro 2009!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Milton Hatoum: relatos de leitura

No ano passado tive a oportunidade de conhecer um dos escritores brasileiros contemporâneos mais interessantes: Milton Hatoum. Foi um intensivo: li os quatro livros publicados do autor.

O livro mais conhecido do escritor é “
Dois Irmãos” que, justamente, mostra o relacionamento dos gêmeos Omar e Yakub. É inevitável, lendo este romance, relacioná-lo a Esaú e Jacó, de Machado de Assis e mesmo aos irmãos bíblicos. É mais uma história sobre os duplos. A temática do romance abrange o incesto, a rivalidade, a rejeição.

De modo geral, os temas de seus livros são recorrentes. Em “Relato de um certo Oriente” também os encontramos. Mas, neste romance, o que mais chama a atenção é a construção. A mesma história aqui é contada sob diversos pontos de vista, de forma que, à primeira leitura, o leitor desavisado pode não perceber quem é o narrador do capítulo que se está lendo. Em “Relato de um certo Oriente”, a maior temática é a memória, que é construída coletivamente para formar o relato completo. O romance se tornou a obra prima do autor.

Em “
Cinzas do Norte”, mais uma vez a temática é a rejeição. O romance é o retrato do homem atual, quando os valores morais e éticos perderam a importância, quando o Ser não tem mais importância. Outra temática deste romance é a arte, tanto visual quanto literária.

A novela “
Órfãos do Eldorado”, último livro publicado pelo autor, tematiza, principalmente, os mitos amazonenses, amora evoque imagens da literatura mundial em diversos momentos. Vemos, aqui, como os mitos passam a fazer parte da vida das pessoas a ponto de elas nem perceberem mais que se trata de um mito.

No final do mês, a Cia das Letras lança “A Cidade Ilhada”, livro com 13 contos, do qual faz parte “
Encontros na Península”, disponível no site da revista Bravo, em que mais uma vez fica clara a influência de Machado de Assis na obra do autor. Não é difícil pensar em seus textos como os relatos da leitura que teve, e podemos ver que foram muitas.
Vale a pena ler o conto e conhecer o escritor!

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Framboesa de Ouro 2009!

O Framboesa de Ouro, paródia do Oscar, que antecede a premiação, acontece este ano no dia 21 de fevereiro. Para quem ainda não conhece, o Framboesa de Ouro premia os piores do ano em diversas categorias (pior filme, atriz, ator, diretor...)

O prêmio é uma framboesa de plástico pintada de dourado que custa menos que US$ 5,00. Apenas três pessoas foram receber o prêmio até hoje: Paul Verhoeven (Showgirls, 1995), Tom Green (Fora de Casa! - Freddy Got Fingered, 2001) e Halle Berry (Mulher-Gato, 2004).

Confira os indicados deste ano:

Pior filme
· Super-Heróis - A Liga da Injustiça e Espartalhões (Dois filmes - um único conceito de chutar cachorro morto)
· Fim dos Tempos
· A Gostosa e a Gosmenta
· Em Nome do Rei
· O Guru do Amor

Pior diretor
· Uwe Boll - Postal, Em Nome do Rei e 1968: Tunnel Rats
· Jason Friedberg & Aaron Seltzer – Super-Heróis - A Liga da Injustiça e Espartalhões
· Tom Putnam – A Gostosa e a Gosmenta
· Marco Schnabel – O Guru do Amor
· M. Night Shyamalan – Fim dos Tempos

Pior roteiro
· Super-Heróis - A Liga da Injustiça e Espartalhões
· Fim dos Tempos
· A Gostosa e a Gosmenta
· Em Nome do Rei
· O Guru do Amor

Pior ator
· Larry the Cable Guy – Witless Protection
· Eddie Murphy – O Grande Dave
· Mike Myers – O Guru do Amor
· Al Pacino – 88 Minutos e As Duas Faces da Lei
· Mark Wahlberg – Max Payne e Fim dos Tempos

Pior atriz
· Jessica Alba – O Olho do Mal e O Guru do Amor
· Todo o elenco de Mulheres... O Sexo Forte - Annette Bening, Eva Mendes, Debra Messing, Jada Pinkett-Smith Meg Ryan
· Cameron Diaz – Jogo de Amor em Las Vegas
· Paris Hilton – A Gostosa e a Gosmenta
· Kate Hudson – Um Amor de Tesouro e Amigos, Amigos, Mulheres à Parte

Pior ator coadjuvante
· Uwe Boll (como ele mesmo) – Postal
· Pierce Brosnan – Mamma Mia
· Ben Kingsley – O Guru do Amor, Guerra, S.A., Faturando Alto (War Inc.) e Doidão (The Wackness)
· Burt Reynolds – Em Nome do Rei e Deal
· Verne Troyer – O Guru do Amor e Postal

Pior atriz coadjuvante
· Carmen Electra - Super-Heróis - A Liga da Injustiça e Espartalhões
· Paris Hilton – Repo! The Genetic Opera
· Kim Kardashian – Super-Heróis - A Liga da Injustiça
· Jenny McCarthy – Witless Protection
· Leelee Sobieski – 88 Minutos e Em Nome do Rei

Pior dupla em cena
· Uwe Boll e QUALQUER ator, câmera ou roteiro
· Cameron Diaz e Ashton Kutcher – Jogo de Amor em Las Vegas
· Paris Hilton e Christine Lakin ou Joel David Moore – A Gostosa e a Gosmenta
· Larry the Cable Guy e Jenny McCarthy – Witless Protection
· Eddie Murphy dentro do Eddie Murphy – O Grande Dave

Pior prólogo, remake, sequência ou cópia
· O Dia em Que a Terra se Estourou Pra Valer
· Super-Heróis - A Liga da Injustiça
· Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
· Speed Racer
· Star Wars – The Clone Wars

Prêmio pela PIOR carreira
Uwe Boll – a resposta da Alemanha ao Ed Wood

Façam suas apostas!

Veja a Lista de Indicados ao Oscar!

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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Artistas famosos, gastronomia, peças internacionais, nacionais e regionais, lançamentos de livros, espetáculos circenses: tudo isso você pode encontrar no Festival Nacional de Teatro de Curitiba, que acontecerá entre os dias 17 e 29 de março.

O Festival contará com nomes como Jô Soares, Antônio Fagundes, Tiago Fragoso, Bibi Ferreira, José Wilker, Thiago Lacerda e Marília Gabriela e diversos tipos de atrações.

Dentre os espetáculos, destacam-se: “Às Favas com os Escrúpulos” e “A cabra ou Quem é Sylvia”, dirigidos, ambos por Jô Soares; “Calígula”, baseado no texto de Albert Camus, dirigido por Gabriel Vilella e protagonizado por Thiago Lacerda; O monólogo “Aquela Mulher”, dirigido por Antônio Fagundes e estrelado por Marília Gabriela, uma adaptação do texto do angolano Agualusa; a adaptação de “Mary Stuart”de Schiller, dirigido por Cibele Forjar, “Rainhas”, além de “Rock’n Roll”, “Doido”, “Memória afetiva de um amor esquecido”, “Autopeças”, “Inveja dos Anjos” , “Lesados”, “Tá namorando, tá namorando!”, “Muito barulho por quase nada”, Histórias de chocar” e “Borbulho”.

Ainda haverá mais de 290 espetáculos alternativos acontecendo em diversos pontos da cidade, o Risorama, quatro festas e o Gastronomix, em que três chefes, cujos nomes ainda não foram divulgados, terão a tarefa de aliar música e gastronomia.

A crise, no entanto, não poderia deixar de marcar presença no evento. A Petrobrás, que era responsável por 22% do orçamento, deixou de patrocinar o evento. O impacto foi amenizado pelo patrocínio do Itaú. Mesmo assim, os organizadores estão otimistas e prevêem um público de 230 mil pessoas, um aumento relativamente grande em relação ao público do ano passado, 180 mil pessoas.

Maiores informações ainda serão divulgadas no site do Festival, em que os espectadores também poderão postar suas impressões sobre os espetáculos. Os ingressos serão vendidos a partir do dia 19 de fevereiro no shopping Muller ou pelo sistema Ingresso Rápido e custam R$40,00.

Já ouvi dizerem que Curitiba é uma cidade de muita cultura e, se realmente não for, nesta época do ano, ela se torna. No ano passado tive a oportunidade de estar na cidade durante o Festival e, realmente, se respira Teatro e Cultura. Além disso, para quem não é do Estado eu digo: vale a pena conhecer Curitiba: as ruas são lindas, a cidade é arborizadas, as praças são maravilhosas, aos domingos, a feira de artesanato do Largo da Ordem faz muito sucesso, ou seja, existem muitas coisas que você pode fazer no intervalo dos espetáculos.
Abraço!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

400 contra 1 - um filme sobre o Comando Vermelho

O Comando Vermelho, organização criminosa brasileira teve seu início nos idos de 1970, quando presos políticos e comuns se encontraram no presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro. A princípio o lema era lutar contra os abusos por que passavam na prisão, mas aos poucos foi ganhando força e repercussão. Devido ao contato com os presos políticos de esquerda, o movimento foi ganhando ares de guerrilha revolucionária.

A organização conseguia fazer a arrecadação de dinheiro para melhorar a qualidade de vida dos presos e, principalmente, financiar a fuga dos presos, que tendo conseguido fugir de Ilha Grande, nos anos de 80 começara a organizar a criminalidade externa, com assaltos e roubos a bancos, empresas e joalherias. Tornaram-se então um grupo muito bem equipado e organizado.

Exemplo disso é que José Jorge Saldanha, o Zé do Bigode, após um golpe a banco, tenha, no dia 3 de abril de 1981, conseguido combater sozinho mais de 400 policiais por mais de 12 horas, tendo matado e ferido vários deles.

Inspirado por esse episódio, Caco Souza, diretor de curtas e documentários, resolveu se aventurar no ramo dos longas com um projeto que me pareceu bastante interessante: filmar a concepção e a história do Comando Vermelho, baseado no livro autobiográfico de Willian da Silva Lima, um dos principais fundadores do Comando, quando ainda era denominado Falange Vermelha.

Willian da Silva Lima, o protagonista e narrador, será vivido por Daniel de Oliveira (Cazuza), que chegou a conversar com Willian e a ter contato com diversos outros prisioneiros, que farão parte da figuração do filme. Além disso, o elenco conta com Daniela Escobar e Rodrigo Brassoloto e 40 detentos convidados que trabalharão como figurantes. Paulo César Chaves, Wilian da Silva Lima e diversos outros presos colaboraram com a produção para a preparação do elenco.

As filmagens serão feitas em Curitiba (desativado presídio do Ahú e Biblioteca Pública), Rio de Janeiro e Ilha Grande. O presídio do Ahú foi selecionado por ser o mais parecido com presídio da Ilha Grande onde o Comando Vermelho teve sua gênese.Os detalhes da produção do filme e os dados sobre o diretor podem ser conferidos no blog
“400 contra 1 – Uma história do Comando Vermelho”.

Vamos aguardar!

Abraço!