terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poesia para a vida

Diário – Miguel Torga

Toda a semana me apeteceu gostar da Vida,
Por causa desse dia, que sonhei
Tão grande como o Dia de Juízo...
Afinal, anoiteceu,
E o meu pobre coração
Trabalha como nos dias
Em que nada aconteceu.

Ora isto vem de tão longe,
É já tão velho e revelho
Adormecer como um justo
E acordar roubado e morto;
É natural em mim
A ânsia ser um aborto
Ao fim
Dos nove meses do prazo,
Que era lógico e seguro
Ouvir cantar as sereias
Sem fazer caso...

Ah! Mas isso é que não! Ninguém se iluda!
Ninguém pense que vou desanimar!
Não, senhor:
A sagrada Teologia
Previu isto e muito mais...
Deus lá sabe
As linhas com que se cose...
Se para meu sumo bem
Terá de aumentar a dosa...


Apeteceu-me apresentar o poeta. Miguel Torga (1907-1995) é português, pertencente à fase denominada Presencismo, visto que é contemporânea da importante revista literária “Presença”, da qual fez parte o poeta. As tendências seguidas por este movimento não poderiam ser melhores: Dostoiévski, Proust e Gide. Miguel Torga é, na verdade, o pseudônimo de Adolfo Correia Rocha. Seus poemas, de caráter humanista, exprimem o transcendental, a experiência e a fatalidade de Ser. Escreveu predominantemente poesia, mas sua obra consta também de prosa de ficção, relato de viagens e teatro.

Outros textos do autor:
Livro de Horas
Identidade
Orfeu rebelde
Guerra Civil
Comunicado

Os livros do autor você pode conferir e comprar
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Abraço!

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